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INQUIETO

"Mas sigo o meu trilho. Falo o que sinto e sinto muito o que falo - pois morro sempre que calo." (Affonso Romano de Sant'Anna_Que País é Este?)

terça-feira, 1 de outubro de 2019

Cão

Hoje, não vou!
Não vou!
Não voo.
Haja o que vi,
vivi,
vim ver.
Hoje,
eu não vou,
não volto,
não devolvo
minha vida.
Eu vazo.
Eu, vaso
vazio?
esvazio...
Envaso!
"Sê vadio,
mas não volta"
Não há diáspora.
Nem me revolto,
que o vento
e as veias
destes ossos
vão perpetuar
o ócio
dos meus destroços
Hoje, eu não vou.
eu sou!
Tento ser,
em vão,
o desvanecer
do cão
a adormecer
dentro de mim.
E de cada ser
que fica aqui.
Pelo que vi,
pelo que vivi,
pelo que sei,
do que senti,
não vou!
Hoje, eu não vou!

sexta-feira, 26 de abril de 2019

viaggio in un bacio

a minha lingua pede à sua lingua
uma letra
uma palavra que me diga
dita
seja maléfica
ou bendita
a pista por que passa
a minha vida
me dê um sopro, um suspiro
do que seja seu estilo
para eu lhe ter comigo
suas palavras
a minha lingua pede a sua lingua
numa frase que não desdiga
pede que me sirva de comida
me explique e descomplica
os problemas do mundo todo
com um beijo
a minha boca pede à sua boca
que não seja coisa pouca
tenha desejo e paixão
para viajarmos
o mundo todo
num só beijo

desmantelo

quisera com lágrimas
dissolver o desencanto
presente, agora, em todo canto
se possível fosse
derreteria o cinismo
diluiria com meu pranto
a dor e o desespero
quisera com lágrimas
se possivel fosse
lavar a face da mentira
polir a fronte da desídia
para salvar os indolentes
de sua paralisia
quisera que as lágrimas
fossem antídoto para o despudor
que libertassem múmias
se possível fosse
de seus pensamentos
quisera com lágrimas
consertar a miopia
fazer ver
a quem já ama a cegueira
e com isso
acertar o caminho
mas se as lágrimas
nem as palavras
não são poções mágicas
para os insensíveis
há sangue que possa verter
em nome do impossível