Um feixe
puxa um ramo
e derrama o rumo
por engano
A corda estica
e acorda cores
neste pano
Um corpo,
parado na cama,
pede ao fio,
roga ao ramo,
ora à corda
por um curto
- Despeje as dores
do meu plano
Desprezado cidadão,
pedir-lhe-ia perdão
pelos atos praticados
em nome desta nação
já doente e aos pedaços.
Só que tô em recessão,
pois tenho uns assuntos pendentes
com zonas diferentes
do coração
Inominado sujeito,
tô que tô sem freio no peito
e desço abaixo a ladeira da devassidão.
Já não tenho mais jeito
e, ainda assim, tenho quem me queira,
que levante a bandeira,
hasteada no chão.
Não tenho mais cores que não sejam cinzas.
Não tenho mais árvores que não sejam madeira.
Não tenho mais plantas que não sejam estrume.
E ainda nem chegamos no cume,
há muito o que subir,
para chegarmos embaixo,
como quem carrega um fardo,
para depois soltá-lo,
sem compromisso.
Caro democrata,
tenho em minhas veias só gordura e açúcar,
com que se lambuzam velhas sanguessugas.
Apresento mais doenças que um hospital.
A saúde é acessório.
E daí?
Me diz aí,
se mesmo assim,
você não gosta de mim?
Ideologia,
eu quero uma pra você,
eu quero uma pra você abandonar
Pois, quando não há razão,
há silêncio
ou gritaria desvairada
A sua propensão à censura
A sua inclinação ao desprezo
Sua sabedoria
vai despencar
do alto do último andar
Seu conhecimento
Seus livros lidos,
eu vou queimar
Vou botar fogo nas suas ideias
Voou achincalhar seus pensamentos
Vou falar
Vou falar
Vou falar muito
Até as suas entranhas me expulsarem
da sua intolerância
do seu desrespeito
E longe de si
ou dentro de si,
por ter sido devorado,
posso ter garantido
meu direito à alegria
Porque, afinal,
a felicidade é uma obrigação legal
Não quero um sistema
que me liberte
Mas um mecanismo
que me permita
Não quero um desejo
que me devore
Mas um sonho
que se realize
Não quero um sol
que se ponha
Mas uma lua
que não adormeça
Não quero voar
sem asas
Mas pisar forte
com pés descalços
Eu quero poder pensar
e dizer
o que me contradiz,
em bom som,
com boa dicção:
- Você é quem me faz feliz!
Esse é meu refrão
sem tom,
sem harmonia,
Que diante à sua presença
não tem limites,
não me devora,
não se põe
no alvorecer da aurora
Quebrei muitas coisas
outras tantas, as consertei
Por ser homem de palavras
abri e fechei as travas
corrompi a lei
Deixei pessoas aos prantos
outras tantas, as que amei
Por ter o fulgor, faltava
e quase me arrebentava
nas entranhas, o meu rei
Tenho, em mim, todas as chagas
as que existem e as que inventei
Por mais que buscasse
não me curava
de todos males, os acessei
Voltam a sangrar, as feridas
após anos de escondidas
destrançam-se, as cicatrizes
ampliam a imensidão do tempo
e deixam, em carne viva, o corpo
Não aceita a idade
o rio corrido
as correntes margeiam
os troncos cortados
Não aceita suas rugas
a velhice dada
o caminho traçado
e o percorrido
Não se mete na blusa
com que pulava muros,
roubava frutas
e rezava
Não corre seus passos
e o prazo o engole
acelera o tempo
e reduz o espaço
Do caos
à paz
Da turba
ao isolamento
Dá hora
ao tempo
De mim
para ti
todo o meu vento
A vida é uma reticência e ponto
Cheia de final sem recomeço
Plena de começos sem fim
A vida são vidas feitas
Sólidas ou rarefeitas
Não permanecem ou passam
Em cada trampolim
Pulamos
Sem saber o pranto
Temos todos fatos
Em nossa fuça
Mas não há recusa
O que sabemos
Tão pouco vemos
Nos direciona
E nesse fim
Há destino
Ou novo fio
Jogo-lhe tijolo
na testa
Por uma finestra
Por todo seu caminho
Tem um carimbo no seio
Bem no meio
O que lhe faz assim
Sendo você, sem mim
São as veias
Um movimento
Carrega seu trilho
Sem desancar
Na correria
Perde seu Lar
E as paredes
Meu tijolo,
Agressão que seria
Constrói!
O seu rumo dói
Destrói
E desfaz