Páginas

INQUIETO

"Mas sigo o meu trilho. Falo o que sinto e sinto muito o que falo - pois morro sempre que calo." (Affonso Romano de Sant'Anna_Que País é Este?)

terça-feira, 2 de novembro de 2021

Oriente

 Corre na chuva
como quem busca abrigo,
não vê perigo
e escorrega
Volta pra casa logo
cheio do mundo
e vazio no ego
Molha seus planos
feitos por anos,
como papel
Faz novo mapa
onde detalha
sua oposição
Tenta ir longe
nas coordenadas
e encontra erradas
as suas linhas
Não tem caminho 
que planejado 
esteja ao lado
ou contramão
Seu GPS
está quebrado
e toda rua
é uma prisão
Quando desiste
 e anda à solta
é que se encontra
foge à razão

sexta-feira, 15 de outubro de 2021

Arroz quebrado e feijão bandinha

 Eu queria sair
Queria me encontrar
Andar de bar em bar
Pra trombar o desejo

E quando te vi
Sem jeito e lar
Uma causa de existir
Eu senti o seu beijo 

O mundo mostra a mim
Que tem tanto sem jeito
Como eu 
Que me sinto no peito
No apogeu
Procurando entender 
E me entendendo
Um pouco mais

Cada lado que temos
Frente aos lados demais
Viram dados pequenos
E nos trazem paz

Nossos grandes problemas
Tidos, então, atrás
Mostram tortos poemas
Verso e letra a mais

Prezo que o tempo
E o que aprendo
Tornem me capaz
De esquecer o como
Cheguei à soma
Em quanto espaço
Passei através

Volto pra casa
Cheio de certezas
Que amanhã, na mesa
Já deixo pra trás

segunda-feira, 5 de abril de 2021

Dendrito

 Um feixe
puxa um ramo
e derrama o rumo
por engano
A corda estica
e acorda cores
neste pano
Um corpo,
parado na cama,
pede ao fio,
roga ao ramo,
ora à corda
por um curto
- Despeje as dores
do meu plano

quarta-feira, 24 de março de 2021

A realidade é plasma

Desprezado cidadão, 
pedir-lhe-ia perdão 
pelos atos praticados
 em nome desta nação 
já doente e aos pedaços. 
Só que tô em recessão, 
pois tenho uns assuntos pendentes 
com zonas diferentes 
do coração

Inominado sujeito, 
tô que tô sem freio no peito 
e desço abaixo a ladeira da devassidão. 
Já não tenho mais jeito 
e, ainda assim, tenho quem me queira,
 que levante a bandeira, 
hasteada no chão. 

Não tenho mais cores que não sejam cinzas. 
Não tenho mais árvores que não sejam madeira. 
Não tenho mais plantas que não sejam estrume. 
E ainda nem chegamos no cume, 
há muito o que subir, 
para chegarmos embaixo, 
como quem carrega um fardo, 
para depois soltá-lo, 
sem compromisso.

segunda-feira, 22 de março de 2021

VAIA

 Ideologia,

eu quero uma pra você,

eu quero uma pra você abandonar

Pois, quando não há razão,

há silêncio

ou gritaria desvairada

A sua propensão à censura

A sua inclinação ao desprezo

Sua sabedoria

vai despencar

do alto do último andar

Seu conhecimento

Seus livros lidos,

eu vou queimar

Vou botar fogo nas suas ideias

Voou achincalhar seus pensamentos

Vou falar

Vou falar

Vou falar muito

Até as suas entranhas me expulsarem

da sua intolerância

do seu desrespeito

E longe de si

ou dentro de si,

por ter sido devorado,

posso ter garantido 

meu direito à alegria

Porque, afinal,

a felicidade é uma obrigação legal


quarta-feira, 17 de março de 2021

Sociedade Ilimitada

 Não quero um sistema 

que me liberte

Mas um mecanismo 

que me permita

Não quero um desejo 

que me devore

Mas um sonho

que se realize

Não quero um sol

que se ponha

Mas uma lua 

que não adormeça

Não quero voar

sem asas

Mas pisar forte

com pés descalços

Eu quero poder pensar

e dizer

o que me contradiz,

em bom som,

com boa dicção:

- Você é quem me faz feliz!

Esse é meu refrão

sem tom,

sem harmonia,

Que diante à sua presença

não tenho limites,

não se devora,

e não se põe

o alvorecer da aurora


sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

O rei da barriga

 Quebrei muitas coisas

outras tantas, as consertei

Por ser homem de palavras

abri e fechei as travas

corrompi a lei


Deixei pessoas aos prantos

outras tantas, as que amei

Por ter o fulgor, faltava

e quase me arrebentava

nas entranhas, o meu rei


Tenho, em mim, todas as chagas

as que existem e as que inventei

Por mais que buscasse

não me curava

de todos males, os acessei


Voltam a sangrar, as feridas

após anos de escondidas

destrançam-se, as cicatrizes

ampliam a imensidão do tempo

e deixam, em carne viva, o corpo

quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

Terreirão

 Não aceita a idade

o rio corrido

as correntes margeiam

os troncos cortados

Não aceita suas rugas

a velhice dada

o caminho traçado

e o percorrido

Não se mete na blusa

com que pulava muros,

roubava frutas

e rezava

Não corre seus passos

e o prazo o engole

acelera o tempo

e reduz o espaço

segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

Ca La Nuri

 Do caos

à paz

Da turba

ao isolamento

Dá hora

ao tempo

De mim

para ti

todo o meu vento

sábado, 9 de janeiro de 2021

Tijolo

 


A vida é uma reticência e ponto

Cheia de final sem recomeço

Plena de começos sem fim


A vida são vidas feitas

Sólidas ou rarefeitas

Não permanecem ou passam


Em cada trampolim

Pulamos 

Sem saber o pranto


Temos todos fatos

Em nossa fuça

Mas não há recusa


O que sabemos

Tão pouco vemos

Nos direciona


E nesse fim

Há destino

Ou novo fio



TiTolo

 



Jogo-lhe tijolo

na testa

Por uma finestra


Por todo seu caminho

Tem um carimbo no seio

Bem no meio


O que lhe faz assim

Sendo você, sem mim

São as veias


Um movimento

Carrega seu trilho

Sem desancar


Na correria

Perde seu Lar

E as paredes


Meu tijolo,

Agressão que seria

Constrói!


O seu rumo dói

Destrói

E desfaz