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INQUIETO

"Falo o que sinto e sinto muito o que falo - pois morro sempre que calo." (Affonso Romano de Sant'Anna_Que País é Este?)

sexta-feira, 7 de novembro de 2025

Paísão da porra!

Que País é este!
onde os abraços são ofertados a esmo
e estes abraços são fortes e demorados
em que a diferença no trato
é de um, dois ou três beijos na face
e não basta um aperto de mão 

Que País é este!
em que recém encontrados
oferecem repouso e estadia
mesmo sem ter dito de fato
há profunda intenção no ofertado
e muito afeto a cada contato

Que País é este!
em que o clima não muda os sorrisos
em que a chuva não desfaz laços 
nem o calor dá refresco à alegria
o vento semeia carinho
espalhado em todo o agito

Que País é este!
em que as línguas não criam barreiras
criam novas línguas e novos motes
tudo para dizer: Eu te amo!
para acalentar o cuidado
e apaziguar o ânimo

Que País é este!
em que as mazelas não superam virtudes
em que as tristezas é que interrompem a alegria
e nunca o contrário 
em que viver é uma arte aprimorada
e o convívio é o estado da arte

Que País é este!
em que se esquece toda divergência 
com um simples copo de cerveja
e, claro,
muitos mais abraços, afetos e cuidados
distribuídos aos montes, em todo espaço

Que País é este!
em que a pobreza nunca foi de espírito 
e os recursos são amplos e infindáveis 
e, destes recursos,
os mais belos são os humanos
que, por sua vez, são naturais

Que País é este!
em que os animais compõem as famílias 
São legatários e herdeiros
dormem nas camas 
e tem seus próprios banheiros
não são esquecidos ou atropelados

Que País é este!
em que se divide a comida
e supre a carestia no vôo 
onde há oferta em castanhas
as mangas lhes caem nos cocos 
e estes cocos dão bons papos e prosas

Isto não é um País (só)
é verdadeira Nação 
de mães, pais, pets e irmãos 
muito mais que um país 
é um puta Paísão! 

sábado, 1 de novembro de 2025

amar is over

De tanto pensar
E tanto pensei
Já quis e não mais
Um passo a querer

Agora e por tudo
De toda maneira
Já tive um motivo
Nenhuma ladeira

Amar é uma luta
E tudo se busca
Armar-se no fim
É faca e caveira

Por tanto motivo
E sem ter razão
Peço em joelhos 
Corte-me o não 


sábado, 25 de outubro de 2025

ant-IA

O que produzo
Sob qual produto
Sabe lá seus rumos
As suas origens
Nem seu destino

Os seus ouvidos
E o que se escuta
Trava en permuta
os nossos pinos

Um peão à frente
Sem cavalo atrás 
Pede à nossa dama
Que se movimente
Em diagonal

Já por desatento
Provo do irreal
Que me tem
concreto,
inserto
e desproporcional

Ama a Chama

Se me ama
Se me quer cama
Não bote fogo
Não puxe a corda
Espere
Não me acorda
E se me chama
É que me ama

Vem, me pega 
Que se me esfrega
Eu me repuxo
E lhe dou luxo

Deito ao lado
Contrário 
Ao ódio 
E, não,
Não me endireito

Não apaga
e me chama
Não me puxa
E não fujo

Eu, vaia

 


Terras Raras

A saudade é um ímã de neodímio

Atrai tudo, por quê me redimo

um pedaço qualquer do meu aço 

Puxa toda a força e despedaço


Sim, sinto sua falta e falho

E nem lhe digo de verdade

Que nisso resiste a gravidade

Põe carta longe do baralho 


Vale muito nos perder

ter distância e querer

Que a cada polegada 

Soma, à força, a pegada


À distância, vejo os passos

E sigo o seu destino

Pois não lhe ter por perto

É só um torto desatino

sexta-feira, 3 de outubro de 2025

O renomado inominável


Eu te conheço 
Você me conhece
Não te mereço 
E me faz prece

Faço o que faço 
E não me lasco
Pois me sou grato
Lhe ter feito fato

Se pudesse dizer
(E nem digo)
O meu ciúme 
Tem fundo e cume
Pelo qual morro

Pois no desforro
Puxo o meu ser
pra (sem desaforo)
desaparecer

Sem dores
Lhe digo forte:
O que me leva
(À morte)
É ter medo demais

Mais do que isso:
Meu precipício 
É pular da margem
(de tanta coragem)
de todo abismo 

terça-feira, 26 de agosto de 2025

Taturana

Você pode me queimar
Com todo esse fogo 
Eu piso descalço 
E lhe rogo
não lhe piso
E você me preza

Você se esgueira
Em suas patas e beiras
Move todo seu corpo
Para me atacar

Troca sua pele
E sobe no solo
Para que o esforço 
Lhe trace as cores

Pede que lhe toque
Em pilosidade
E sendo que me provoque
Eu lhe cutuco sem glória 

Lhe temo por cego
De ter apego
E prego:
Não me faça ardores!

E quando lhe vejo
Desvio a rota
Pois lhe ter morta 
Pouparia a pupa
sem metamorfose
em bela mariposa

segunda-feira, 25 de agosto de 2025

SizíGia

Eu sou o sol
Vc é a lua
Sou sua força 
E você a minha

Subimos marés 
Voamos as ondas 
E deixam no chão 
Os nossos pés 

Contra a força das águas 
E o seu retorno
Nado sem prancha

Subo em seu salto
Para que num ato
Toque a sua sombra

Puxe meu corpo 
Perto ao seu corpo
E dentro de si
Somamos forças 

Giro ao entorno
Do que lhe torna
E num só gole
Eu me afogo

Em uma linha
Os nossos astros 
Mudam desastres
E forçam os ares
Em novos tratos


quinta-feira, 21 de agosto de 2025

Como a gente

Pouco importa
Por inteligente
Importa mesmo
Por ser gente

Pensar com os dentes
Tropeçar no caminho
Afundar navios
Sem ter aguardente

Ao mostrar assovios

Em suaves desvios

É que nos afinamos


Sem pensar no peso

Do desleixo

Sem deixar de pensar

Nos seixos

Que de rolados

Já não os queixa


Sem mente

Se inteligente

Há pra tudo

Um jeito

E qualquer sujeito

Tem sua razão 


Importa mesmo

é ser gente

Ter desvios

O queixo nos dentes

Por não ser sujeito

Ao que faz deleite

Do que foi, então 


Não nos deixe

Sem ser mar

Ao peixe

Nem dar cara

Aos tapas

Que afagam

E afogam


Ser inteligente

É ler 

No meio de toda gente

Sem ter nem noção 

sábado, 12 de julho de 2025

convicto

Tenho a mais absoluta certeza que estou enganado!
Tive outras convicções, ao longo de infindáveis anos, em que me debrucei sobre o conhecimento. 
O mais preciso que já foi produzido. 
Por desconhecidos,
mas com nomes e endereços próximos do concreto.
Ainda que não possa dizer seus sobrenomes, é inegável que aquelas letras foram escritas, postas sobre papiros.
Se em grego, hebraico ou troiano... com vírgulas ou apóstrofes, não faço óbices às certezas que criaram.
E sobre as quais afirmo, e reafirmo:
tenho a mais absoluta certeza que estou enganado!
Não há no mundo uma evidência do que estou dizendo, nem há palavras que possa escrever para negar 
ou mesmo afirmar.
Isso que é o objeto do nosso questionamento!
Tô te falando!
O que penso é o que preciso, e isso é pouco preciso. 
E dito isso, posso lhe afirmar, ca-te-go-ri-ca-men-te: tenho certeza que estou enganado!
E isso nem está muito certo.

sexta-feira, 11 de julho de 2025

Afeito

Tinha uma perna quebrada
e vontade
Você tinha vontade
e requebrava

Um olho no outro
é verdade
Temos desejo
Um suingue que arde

Pego em sua anca,
encosto em seus seios,
um alarde

Eu sei, você sabe
não é tão tarde
Forma o desejo
e damos um beijo

Me aprochego
olho no fundo do leito
Atravesso seu rio
sem nado

Um dedo, dois dedos,
meu corpo inteiro
e, sem ser
covarde
lhe ofereço a boca

No que já é tarde
Cada dor
dobra a idade
dos seus beijos
da sua boca
na minha boca

Em segredo
lhe tenho no peito
Inteira
dentro de um sujeito
sem jeito
imperfeito
e refeito