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INQUIETO

"Falo o que sinto e sinto muito o que falo - pois morro sempre que calo." (Affonso Romano de Sant'Anna_Que País é Este?)

segunda-feira, 25 de agosto de 2025

Sizígia

Eu sou o sol
Vc é a lua
Sou sua força 
E você a minha

Subimos marés 
Voamos as ondas 
E deixam no chão 
Os nossos pés 

Contra a força das águas 
E o seu retorno
Nado sem prancha

Subo em seu salto
Pra que num ato
Toque a sua sombra

Puxe meu corpo 
Perto ao seu corpo
E dentro de si
Somamos forças 

Giro ao entorno
Do que lhe torna
E num só gole
Eu me afogo

Em uma linha
Os nossos astros 
Mudam desastres
E forçam os ares
Em novos tratos


quinta-feira, 21 de agosto de 2025

Como a gente

Pouco importa
Por inteligente
Importa mesmo
Por ser gente

Pensar com os dentes
Tropeçar no caminho
Afundar navios
Sem ter aguardente

Ao mostrar assovios

Em suaves desvios

É que nos afinamos


Sem pensar no peso

Do desleixo

Sem deixar de pensar

Nos seixos

Que de rolados

Já não os queixa


Sem mente

Se inteligente

Há pra tudo

Um jeito

E qualquer sujeito

Tem sua razão 


Importa mesmo

é ser gente

Ter desvios

O queixo nos dentes

Por não ser sujeito

Ao que faz deleite

Do que foi, então 


Não nos deixe

Sem ser mar

Ao peixe

Nem dar cara

Aos tapas

Que afagam

E afogam


Ser inteligente

É ler 

No meio de toda gente

Sem ter nem noção 

sábado, 12 de julho de 2025

convicto

Tenho a mais absoluta certeza que estou enganado!
Tive outras convicções, ao longo de infindáveis anos, em que me debrucei sobre o conhecimento. 
O mais preciso que já foi produzido. 
Por desconhecidos,
mas com nomes e endereços próximos do concreto.
Ainda que não possa dizer seus sobrenomes, é inegável que aquelas letras foram escritas, postas sobre papiros.
Se em grego, hebraico ou troiano... com vírgulas ou apóstrofes, não faço óbices às certezas que criaram.
E sobre as quais afirmo, e reafirmo:
tenho a mais absoluta certeza que estou enganado!
Não há no mundo uma evidência do que estou dizendo, nem há palavras que possa escrever para negar 
ou mesmo afirmar.
Isso que é o objeto do nosso questionamento!
Tô te falando!
O que penso é o que preciso, e isso é pouco preciso. 
E dito isso, posso lhe afirmar, ca-te-go-ri-ca-men-te: tenho certeza que estou enganado!
E isso nem está muito certo.

sexta-feira, 11 de julho de 2025

Afeito

Tinha uma perna quebrada
e vontade
Você tinha vontade
e requebrava

Um olho no outro
é verdade
Temos desejo
Um suingue que arde

Pego em sua anca,
encosto em seus seios,
um alarde

Eu sei, você sabe
não é tão tarde
Forma o desejo
e damos um beijo

Me aprochego
olho no fundo do leito
Atravesso seu rio
sem nado

Um dedo, dois dedos,
meu corpo inteiro
e, sem ser
covarde
lhe ofereço a boca

No que já é tarde
Cada dor
dobra a idade
dos seus beijos
da sua boca
na minha boca

Em segredo
lhe tenho no peito
Inteira
dentro de um sujeito
sem jeito
imperfeito
e refeito

sexta-feira, 25 de abril de 2025

Bora

            B   ORA
ORA   ORA   ORA
DEM   ORA   ORO
ÉHO   RAB   ORA
CHO   RAT   ORA
AGO   RAF   ORA

HOR   AAG   ORA
MOR   AAM   ORA
FUR   AAB   OLA
ROL   AMO   RRO
LHE   DEV   ORA

ORA   ORA   ORA
AGO   RAF   ORA
    AGO   RAM   ORRo   


quinta-feira, 24 de abril de 2025

por_onde_houver_chao

Por onde houver chão 
Ando meus passos
Por trilhas desviadas
Piso fofo na areia 
E molho os pés n'água 

Por tamanha imensidão 
Caminho sem pressa
Que os passos são imprecisos
E os percalços fazem moinhos

Deixo o peso após o vento
E as rajadas dão movimento
Ao que se queria inerte

Agora, vôo sem asas
Deixo o cansaço pra trás 
E não lamento as trapaças 
Pelas que corri demais

No calcário dos recifes
Sangro meus dedos
E por deslize
Faço coragem
Dos meus medos

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025

Leoa

Compreensão assim, sem fim
pouco se vê na vida
Você e o seu cuidado comigo
me dão abrigo
Assim durmo sem medo
Tudo o que conto pra si
é desprovido de limites
E os seus ouvidos dão chance
aos meus sons
O que me conta
me balança e alavanca
Seu corpo rijo e olhar esperto
tomam o espaço
por concreto
O meio em que nos encontramos
envolve as mensagens que trocamos
e quando passam as nuvens
o seu jeito destoa
Você navega o tempo
e impõe os gestos
com os olhos de Leoa.

Seu sol

 Eu sou 
seu sol
sem som
Sou solo
sedução
Sem sono
e sensação
Sou ser 
se é
no seio
a solução

segunda-feira, 4 de novembro de 2024

Escafandro

Sob um forte calor
frente a boa piscina
tenta não se indispor
e despir-se de si

Com os dedos dos pés
mede o tempo e a brisa
e por tanto, ao revés,
põe seus medos por cima

Já suado e sem cor
pisa forte na beira,
mas de tanto pensar
põe mais fé na traseira

Mas o calor e desejo, 
que lhe comem por dentro,
rompem o seu dissabor
e lhe entregam ao vento

Sente que o seu pudor
pede fim ao seu pranto
e com armas e suor
põe seu corpo pra dentro

 

sexta-feira, 25 de outubro de 2024

A palavra voa

Nas palavras
se arvoram
os pássaros 

arredios

Os que voam
sem se ver,
sem se notar

As letras guardam
mais plumas
que o agora

E o depois
é voo    

É pouso breve
na testa
do que se quer
vento

Eu vejo hoje
e por aí 
que o canto
não mete pudores
aos tantos
desejos
dos remadores

Notícias Suas

Eu preciso ter notícias de você
Saiu assim, sem me procurar.
penso o dia todo em te ver,
está em cada canto do meu lar.

Me avise se chegou bem,
quando conseguir ligar
Seja cuidadoso em suas ruas,
não me deixe sem notícias suas

Quando viermos à nossa conversa,
desejo entender a sua pressa
E seja o que tenha a me dizer,
eu digo que não posso te esquecer

Meus medos sumiram no instante
em que seus dedos tocaram minha fronte.
Agora, sinto cada beijo que não dei,
como espelhos que escondem o horizonte.

Seja cuidadoso em suas ruas,
mas não me deixe sem notícias suas.

3irMãos e Mais

Sem obstáculo,
não trocaria a bota,
E num arremedo,
topava o dedo
e ficava na estrada.

Sendo o piso
sempre firme
e liso,
meus pés não teriam casca,
não teriam viço.

Em cada ladeira em que piso,
por toda subida que passo,
aumento o compasso,
estendo o caminho
e procuro força
na mina
da panturrilha.

Mas se a pedra não ferisse,
se a terra não exigisse,
o corpo seria o mesmo,
sem histórias escritas na pele,
sem lições gravadas no osso.

O trilho que sigo
forja mais que passos,
Ergue pontes
entre os percalços.

É nas curvas,
nas quedas,
que o espírito se alinha
ao destino.

Cada dor,
cada rastro,
marca o chão,
e faz do caminho
a chegada.